Denúncia
Blackface volta a gerar polêmica no Carnaval de Rio Grande
Foto de homem branco pintado de preto e publicado nas redes sociais da Prefeitura recebeu críticas de racismo
Foto: Reprodução - Publicação nas redes sociais da prefeitura de Rio Grande gerou polêmica
A foto de um homem branco pintado de preto no desfile de um bloco carnavalesco de Rio Grande e publicado nas redes sociais da Prefeitura gerou polêmica e acusações de blackface por parte da comunidade negra da região. Na foto, o idoso aparece fantasiado de Preto-Velho, uma entidade de religiões de matriz africana que representa sabedoria e aconselhamento. O caso ocorreu no domingo, durante desfile do Bloco da Marilu.
O blackface é a prática de pessoas brancas pintarem o rosto para performar personagens negras e era muito comum no teatro e no cinema até as primeiras décadas do século 20. A prática, no entanto, é considerada ofensiva e racista, já que na maioria dos casos é feita de maneira pejorativa ao reproduzir estereótipos raciais.
Na publicação, feita na segunda-feira e apagada ontem das páginas da Prefeitura, usuários criticam a fotografia, que aparece em meio a uma galeria de fotos dos desfiles de domingo. "Blackface normalizada na página da prefeitura. Ainda usando entidade de umbanda de fantasia. Ridículo é vir da página da própria prefeitura", comentou um usuário. "Eu fico pensando, não teve uma pessoa com o mínimo de noção pra dar um toque em vocês?", questionou outra pessoa nos comentários do Instagram.
Racismo recreativo
O presidente do Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Rio Grande, Chendler Siqueira, criticou a publicação em uma página oficial da Prefeitura. "É uma banalização institucional das lutas do movimento negro", classifica. "Pode ter sido por descuido ou falta de compreensão de quem fez a postagem, mas ao ser identificada tal situação precisa ser reparada, e não deixada lá por birra."
Chendler explica que há uma divergência de opiniões na sociedade por falta de compreensão sobre o blackface. "O racismo tem vários braços. Um deles é o racismo recreativo, onde a gente normalizou muita coisa que hoje não é mais aceitável, porque lá no fundo da 'brincadeira' tem uma intenção de ridicularizar, inferiorizar, estereotipar", diz. "Eu posso até não entender o blackface, mas se tem um movimento de pessoas negras, a nível internacional, denunciando tal situação, é porque ela tem algum problema de fato", avalia.
Presidente do bloco defende
No ano passado, o mesmo Bloco da Marilu já havia sido acusado de blackface quando integrantes do grupo desfilaram fantasiados de pessoas negras. O presidente do bloco, Jorge Luiz Freitas, o Pirulito, defende que é uma prática comum do Carnaval - assim como homens se fantasiarem de mulher ou de indígena -, e que a pintura de rosto trata-se de uma homenagem às pessoas negras.
"A pessoa tem a liberdade de se fantasiar de Preto Velho, de índio, se ela quiser. Se é proibido, aí é com a pessoa, eu não posso chegar pra ele e dizer 'a fantasia não serve'. A gente não sabe até onde vai chegar. O carnaval vem dos negros, para mim é uma homenagem que a pessoa faz", diz Freitas. Segundo ele, no entanto, o integrante do grupo que se fantasiou de Preto Velho foi advertido a limpar o rosto para não suscitar polêmicas como a do ano passado. "Ele até queria insistir, mas a gente disse que o bom é não sair, senão vai dar polêmica".
O homem que se fantasiou de Preto Velho e aparece na fotografia foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
Prefeitura apaga publicação
Procurada, a Prefeitura de Rio Grande respondeu através da assessoria de imprensa que a publicação tinha diversas fotos de desfiles dos blocos de carnaval da cidade. "Entre eles o tradicional Bloco da Marilú, o bloco mais antigo da cidade em atividade, representado por uma personagem negra, que é festejada pelos seus membros de diversas maneiras", diz a resposta.
A Prefeitura disse ainda que retirou a publicação do ar "tendo em vista o mal estar gerado por algumas imagens e sensível às posições manifestadas por seguidores" e pediu desculpas "a todos que tenham se sentido ofendidos de algum modo, o que jamais foi a intenção de conteúdo".
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